20 de abr. de 2012

muito interessante

uma coisa que achei muito interessante foi o seguinte: ele só desenhava a lápis e a pena. nesses primeiros anos fez uma brevíssima incursão pela aquarela e óleo, mas desistiu. aí, num dos arranca-rabos com theo, em 1884, fazem um acordo e ele começa a PINTAR cabeças (a série "cabeças do povo" ou de "gente do povo" ou o que seja). só que era pleno inverno, ele era um durango crônico, tinta a óleo e modelos eram caros, além do mais ele tinha a teima contra a cor (outra história interessante), e só podia gastar um florim por dia. 

então no inverno até conseguiu modelos porque os lavradores, artesãos e gente mais simples estavam sem trabalho e aceitavam aquele pagamento. só que no inverno os dias são curtos, e toda a questão dele com sombra e luz dependia da luz do dia no ateliê. então, por esse frenesi de dureza, teimosia e poucas horas de luz, ele pintava correndo, sem fazer esboço, contorno, nada, direto, e não tinha tempo nem de deixar a tinta secar, e pintava no molhado mesmo, borrando tudo: por isso o aveludado dos bistres e betumes sobre o preto, pois eram cores claras que se misturavam com os pretos e cinzas ainda molhados. um melê só - e tinha de ser toque muito leve e rápido para não virar lama, não empastar tudo. aí que todos aqueles anos de desenho, com a prática e leveza da mão em hachurar os desenhos, foram a maior mão na roda: pinceladas levíssimas, rapidíssimas, como se estivesse hachurando, mas com pincel, na tinta a óleo, e com as tintas molhadas! não é genial? fiquei arrepiada com essa explicação!