13 de abr. de 2012

paisagem de drenthe

após tragédias e mais tragédias, cenas e mais cenas, brigas e mais brigas, van gogh está em drenthe, tipo um cafundó do judas holandês, à beira de seu primeiro surto psicótico. 1883. lápis, pena e pincel, com véu de aquarela em marrom e branco. paisagem de drenthe.


a querida marion pfeffer comentava o pesar que transmite essa paisagem. aí comentei: 
e vc acredita, marion, que a intenção desse desenho era demonstrar ao irmão theo a paz, a serenidade da natureza, a beleza do local ? pois vincent estava tentando convencê-lo a se mudar para lá. e é interessante como drenthe junta dois aspectos fundamentais: vincent nasceu e foi criado numa região de charneca (em zundert, no brabante, sul da holanda, divisa com a bélgica); ele e theo têm a charneca como uma espécie de referência vital muito profunda. aqui drenthe (norte da holanda, quase perto da fronteira prussiana) não é terra de baixada, como o brabante, mas é também pantanosa, só que de turfa. então essa vastidão de espaço, a desolação, a ausência de árvores, para eles não é muito triste, é uma natureza de "envolvência" existencial muito grande. mas, por outro lado, como drenthe vive da exploração da turfa, nisso acaba guardando semelhanças (sociais e econômicas) com o borinage, a região carvoeira francesa onde van gogh passou quase dois anos, quando queria ser pregador e pastor, e foi um período muito solitário, muito desvairado, extremamente trágico, quase indizível. então drenthe tem meio esses dois lados, ambos muito intensos: zundert e borinage; lar e alheamento etc.